Mais uma vez, os corações centenaristas fragmentam-se ao se depararem com o fechamento das ruas Dr. Turi e parte da Acampamento, devido aos riscos do que sobrou do incêndio de 2007. Sinistro que afetou a história da cidade. Minha história funde-se com a do Centenário, e ela não é única. Estudei no Centenário de 1963 a 1975. Convivi outros tantos anos quando meus filhos lá estudaram. Uma vida! Devo ao Centenário tudo o que sou. Vivi os melhores tempos do meu colégio, como eu o chamava ainda muito pequena. Em frente, havia o consultório da dra. Sonia, minha médica pediatra. Lembro-me de olhar fascinada para aquele prédio grandioso. Voltava para casa afirmando que seria o meu colégio. Devo a minha madrinha, Tia Alzira, duas intervenções, pois meu pai era a teimosia espanhola em pessoa - o nome de Marta! Bem melhor do que Pilara, como ele desejava.
O outro motivo de gratidão foi ter estudado no Centenário, que não é apenas um prédio imponente, é história. É a minha história. Dói muito ver estas lembranças desmaterializando-se em ruínas. Virando cinza e pó sem que haja uma grande mobilização para evitar a dispersão destas lembranças. O Centenário daquela época continua sendo símbolo de uma educação buscada e desejada em tempos atuais. Não são apenas modelos que fazem uma boa educação. É a execução. E a execução depende de pessoas e paixão. Paixão como tinham a Tia Fausta, a Dona Herta, a Dona Luci, a Dona Neida, a Tia Jura, a Tia Nívia, a Dona Zilah, a Maria do Carmo, a Maria de Lourdes, a Dona Neli, a Dona Aldelina, a Miss Robert e tantas outras, não menos apaixonadas. O Centenário, apesar da educação rígida, tinha uma postura de vanguarda. É só imaginar que 50 anos atrás, discutia-se em sala de aula: gravidez, assédio, drogas, trabalho feminino, preconceitos, autonomia. Aprendíamos trabalhos manuais, culinária, decoração, teatro, música, inglês e francês. Praticávamos muito esporte. Centenaristas consideram o Centenário diferentemente das administrações que vêm de fora designadas apenas para administrar ruínas. Estas pessoas não possuem esta identidade, tampouco essas lembranças caladas no coração. Chego a pensar, e as entrevistas à imprensa parecem confirmar, que o estado atual do Centenário foi uma estratégia planejada cedendo à especulação imobiliária. Estou dando voz àqueles que, mesmo distanciados geograficamente, ao escutarem o hino o fazem com lágrima nos olhos:
"Querido Centenário, nós te amamos,
Com muita afeição a ti nós vamos,
Tu és o nosso lar"...
Somada às lágrimas, vem uma dor profunda ao ver nosso colégio indo abaixo dia a dia, incomodando e atrapalhando a rotina da cidade, dando eco ao desejo de demolição da direção atual. A situação de risco contribui para o esquecimento do valor de tantas memórias, histórias e personagens. Não podemos aceitar que esta página da história da educação de Santa Maria se torne apenas cinzas.